Arquidiocese cobra prestação de contas de R$ 3,1 milhões da Fundação Recriar
A Arquidiocese de Maceió entrou com uma ação judicial, no dia 22 de abril, exigindo a prestação de contas do tesoureiro e do conselheiro fiscal da Fundação Recriar sobre a aplicação de R$ 3,1 milhões em projetos sociais destinados a pessoas em situação de rua e dependentes químicos.
Segundo a Arquidiocese, a medida segue diretrizes da Santa Sé que reforçam a transparência e a boa gestão dos recursos da Igreja. Em nota, a instituição afirmou que a ação visa exclusivamente garantir que os recursos públicos sejam devidamente justificados.
Fundos públicos e ausência de informações
A Fundação Recriar, vinculada à Arquidiocese, firmou ao menos dez termos de fomento com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) para execução de projetos sociais. A ação judicial aponta que seis desses convênios, totalizando R$ 3.120.000,00, permanecem sem prestação de contas, apesar de já vencidos ou em vias de vencimento.
Entre os projetos estavam cursos profissionalizantes em áreas como corte e costura, encanamento, padaria, empreendedorismo, idiomas e técnicas de vendas. As atividades seriam executadas entre 2018 e 2025.
Funcionamento da Recriar e suspeitas de desvio
A Recriar atuava como organização guarda-chuva de dez comunidades terapêuticas, promovendo ações de reinserção social. A gestão da fundação ficava com o padre Walfran Fonseca, como tesoureiro desde 2011, e Ronnie Rayner Teixeira Mota, conselheiro fiscal entre 2015 e 2024.
A Arquidiocese afirma que, embora a ação não acuse diretamente os gestores de crime, há suspeitas de desvio de finalidade dos recursos, favorecimento pessoal e irregularidades na execução dos projetos.
Intervenção e nova gestão
Dom Beto Breis, que assumiu o arcebispado em março de 2024, determinou a renovação completa da diretoria da Recriar após constatar falhas na contabilidade e na execução dos projetos. A atual gestão, nomeada por ele, decidiu judicializar a cobrança da prestação de contas.
O processo tramita na 6ª Vara Cível de Maceió, sob responsabilidade do juiz Ney Costa Alcântara, e a Arquidiocese é representada pelo advogado Hugo Sarubbi Cysneiros, de Brasília.
Envolvimento de padre Walfran em outros casos
Além da ação envolvendo a Recriar, o padre Walfran Fonseca também é investigado por irregularidades na Associação Beneficente Paróquia de Santo Antônio, que movimentou cerca de R$ 14 milhões em recursos. Ele foi afastado de todos os cargos que ocupava na Igreja, inclusive da Fundação Leobino e Adelaide Motta.
O religioso também é alvo de denúncia no Ministério Público Federal por crime ambiental, devido à extração irregular de areia no Sítio Bom Retiro, área litorânea pertencente à Igreja no Francês. A exploração foi interrompida após decisão judicial solicitada pela Arquidiocese já sob o comando de Dom Beto.
Nota Oficial da Arquidiocese de Maceió
A Arquidiocese de Maceió vem a público esclarecer que tramita na Justiça uma ação relativa à prestação de contas da gestão anterior sobre o projeto Recriar.
Tal iniciativa segue orientações firmes da Santa Sé, que, tanto no pontificado do Papa Francisco quanto, mais recentemente, no de Sua Santidade o Papa Leão XIV, tem reforçado, de maneira clara, o compromisso da Igreja com a transparência, a boa gestão dos bens e a responsabilidade administrativa.
Destacamos que a medida foi necessária diante da ausência de informações e documentos relativos àquela gestão, de forma que a ação visa, exclusivamente, assegurar que sejam devidamente prestadas as contas correspondentes. Trata-se de um procedimento que busca garantir a lisura, o cuidado e a responsabilidade que devem nortear a administração de qualquer entidade.
A Arquidiocese reafirma seu compromisso com a verdade, com a transparência e com o serviço ao povo de Deus.
Sobre a extração da areia, a atual administração da Fundação Leobino e Adelaide Mota determinou a suspensão imediata da atividade, bem como a realização de auditoria minuciosa sobre os contratos anteriormente firmados. A apuração objetiva verificar a destinação dos recursos auferidos e assegurar que todo valor tenha sido revertido para os fins institucionais. A suspensão foi determinada pelo presidente da entidade, o Arcebispo Dom Carlos Alberto Breis Pereira.
O contrato havia sido firmado com a empresa Mandacaru Extração de Areia e Comércio de Materiais de Construção Ltda, sob condições que se encontram atualmente rescindido, em processo de revisão e análise jurídica.